Por que sucesso alheio dói, e mais ainda com redes sociais

Com as redes sociais, os profissionais passam mais tempo se comparando com outros e se frustrando. Saiba o que fazer para relaxar e viver melhor

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São Paulo - Você tem um bom salário, oportunidades de desenvolvimento, desafios e espaço para crescer. Tudo vai bem até o dia em que um colega é promovido. Aparentemente não há problema algum, afinal você tem tudo o que precisa. Mas você se sente incomodado, como se algo não estivesse certo.

Trata-se de uma sensação de perda, provocada pela comparação com o sucesso alheio. "Achamos que sempre estamos perdendo algo e que, na disputa do dia a dia, não podemos deixar de ganhar nada", diz o professor Anderson de Souza Sant’anna, da Fundação Dom Cabral (FDC), de Minas Gerais.

O sucesso alheio dói. A cientista Sarah Brosnan, do departamento de psicologia da Universidade do Estado da Georgia, nos Estados Unidos, pesquisou nos últimos anos como reagimos quando recebemos recompensas diferentes. Um dos estudos, feito com macacos, ficou famoso em um vídeo que tem circulado pela internet nos últimos meses.

No experimento, dois macacos em gaiolas diferentes têm de fazer uma tarefa simples: entregar uma pedra para a cientista. Como recompensa, um deles ganha uma uva e o outro um pedaço de pepino.

Na escala de valores da macacada, uva vale mais que pepino (as bananas foram deixadas de lado porque faziam parte da dieta diária dos símios). Após executar a tarefa algumas vezes, o macaco que recebe pepino se revolta. "As pessoas reagem igual quando recebem recompensas diferentes", diz Sarah.

"Elas se comparam e percebem que estão perdendo. Não importa se você tem o bastante, se outros ganham mais, achamos injusto e ficamos revoltados como os macacos, mas tentamos nos conter, porque socialmente é melhor."

Um profissional faz comparações para saber se está ou não perto de ter aquela recompensa — e se ela foi justa. A forma mais primária acontece quando se reconhece uma qualidade em outra pessoa e passa-se a imitá-la. Na adolescência, isso ocorre quando todo um grupo adota o mesmo corte de cabelo, por exemplo.

Na vida adulta, esse mesmo comportamento pode ser verificado entre profissionais recém-contratados que observam os códigos informais da empresa e depois de um tempo passam a mimetizá-los. "Isso é importante para sobreviver e crescer", diz o economista e filósofo Jean Bartoli, de São Paulo.

o mesmo mecanismo de comparação é usado quando um profissional recebe um aumento e o colega percebe que trabalha tanto quanto o primeiro, mas não ganhou a mesma recompensa. o risco maior é comparar-se com a pessoa errada. isso ocorre quando se admira alguém.

"Somos incentivados, no mundo corporativo, a ser narcisistas e a nos comparar com as outras pessoas”, afirma Jean. Você vê um diretor e quer chegar àquele cargo, mas sabe que alguns degraus o distanciam. Para chegar lá, começa a imitar as atitudes e a usar o mesmo roteiro.

"Você copia a pessoa, mas muitas vezes não tem as mesmas características dela", diz Jean. A consequência é um sentimento de fracasso, pois, como o contexto é outro, a mesma história não se repetirá. Talvez até chegue ao cargo, mas os caminhos serão diferentes. 

Olhar distorcido

Grande parte desse descompasso ocorre porque raramente leva-se em consideração que as pessoas admiradas tiveram dificuldades no caminho.  o que se vê é a imagem projetada. 

"A pessoa vende a imagem ideal para ela, afinal quer ser o centro das atenções", diz o psicólogo Paul Harvey, da Universidade de new Hampshire, nos Estados Unidos, que estudou por que as pessoas criam expectativas acima do comum. "Na maioria das vezes, a comparação se dá com pessoas que têm um nível de entrega e que estão em um estágio muito diferente na vida."

Para agravar a situação, quando você coloca como referencial a história de uma ou várias pessoas, será obrigado a incluir na sua estrada algumas coisas que não fazem parte de seus valores. "Passamos a levar em consideração não o que desejamos de fato, mas o ambiente externo", diz Anderson Sant’Anna, da FDC. "A pessoa embarca na trajetória dos outros e se esquece dela própria."

A imagem que as pessoas retratam nem sempre é inteiramente verdadeira. Todos fazem uma edição dos melhores momentos. Quando um colega conta, em um momento descontraído, uma história de sucesso, ele omite os problemas que teve.

Quem vê de fora desconhece o que deu errado, na hora de comparar, ignora a parte ruim e faz uma análise distorcida.  “O ser humano é feito de problemas reais, não de imagens projetadas”, diz Jean Bartoli.

Com as redes sociais, isso ficou mais agudo. Todo mundo passou a ter uma história de sucesso. Mas, se antes a notícia da promoção de um amigo levava um tempo para chegar, agora ocorre em segundos. E nas redes sociais todo mundo aparece bem.

Até pouco tempo, os modelos de sucesso eram políticos, empresários e celebridades. Comparar- se com eles era mais fácil. Estavam distantes. As pessoas apenas se inspiravam naquela história. Hoje, com as redes sociais, passamos a ter várias referências. E o pior: com pessoas próximas, o que faz com que sua frustração aumente.

A comparação é um ato instintivo. "Usamos as histórias por segurança, porque não queremos arriscar e pensamos que, imitando aquele caminho, chegaremos ao mesmo lugar", diz Anderson Sant’Anna. Deixar de se comparar é impossível. Precisamos disso para crescer, é inevitável. O importante é ter bons parâmetros para não cair na paranoia de achar que é pior que os outros ou poderia ser melhor.

"Você não pode criar um conflito entre quem você é e a imagem que cria dos outros", diz Jean. A melhor saída é entender que as pessoas têm seus defeitos e lembrar que a sua régua talvez as esteja medindo de maneira errada. É claro que existem injustiças. Algumas pessoas vão receber promoções e serão reconhecidas em seu lugar.

Nesses casos, se você usar a comparação com os parâmetros certos, vai conseguir apresentar argumentos e, talvez, ter a premiação desejada. "Sempre desejamos o que falta", diz Anderson Sant’Anna.

Mas o mais importante a levar em consideração é que você não é tão ruim quanto pensa. E também não precisa ser tão bom como as pessoas se mostram ser. Lembre-se de que elas também olham para você e têm o mesmo sentimento. No final, todo mundo acha que poderia ser melhor. Mas será que realmente precisamos sempre ter histórias magníficas de sucesso para contar?

Fonte:http://exame.abril.com.br/revista-voce-sa/edicoes/185/noticias/por-que-o-sucesso-alheio-doi?page=1

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