Líder de primeira viagem? Veja dicas para começar essa nova fase
A especialista Eva Hirsch Pontes dá os conselhos para enfrentar o período mais crucial para um novo líder
Experimentar a primeira promoção para uma posição gerencial é um momento extremamente crítico na carreira de qualquer executivo e é comum encontrarmos jovens profissionais desorientados com esse desejado movimento de progressão de carreira. Tal constatação é reforçada pelas evidências de estudos: os primeiros 18 meses são os mais complicados dessa nova fase. Uma vez que os chefes novatos se encontram em uma situação inédita, acabam mais suscetíveis a falhas, acumulando dificuldades para desenvolver as novas atividades.
Recentemente a Harvard Business Review publicou um estudo que tem relação direta com esse momento da carreira. Entrevistas com 2.700 líderes de cerca de 150 empresas mostram que cerca de 70% dos novos chefes correm o risco de minar a própria carreira executiva logo no princípio do desafio. O motivo é que os novos líderes não entendem que é preciso se adaptar a um novo contexto, o que dificulta - e muito - o período de transição.
As empresas também têm uma grande parcela de responsabilidade por esse quadro se deixam de preparar e apoiar o processo de transição para o primeiro cargo de gerência. A preparação ideal envolve treinamentos específicos, como programas de mentoria e coaching. Sem a oferta esse tipo de suporte a empresa peca ao promover profissionais ainda não desenvolvidos adequadamente. É o que mostra a pesquisa realizada pela consultoria de liderança Navalent. Dos 2.600 novos executivos entrevistados, 76% afirmam que os processos formais de desenvolvimento da empresa não são úteis o suficiente para prepará-los para cargos de liderança. Ainda assim, do total pesquisado, 55% indicaram ter um treinamento mínimo, mas nenhum feedback para ajudá-los a aperfeiçoar sua capacidade de equilibrar a pressão por resultados de curto prazo e o foco em pessoas. Os achados desse estudo evidenciam que apenas 45% dos participantes indicaram ter uma noção mínima dos desafios que iriam enfrentar ao assumir uma posição de liderança.
Com base nos casos mais comuns que tenho observado em minha prática, listo cinco orientações preliminares para que os profissionais em transição para a primeira posição de gerência saibam lidar melhor com sua nova situação de carreira:
1- Você não dará conta de tudo sozinho: Os executivos recém-promovidos demoram a entender que o que garantiu seu sucesso até aqui não é o que garantirá o êxito futuro. Quanto mais sobem na organização, maior sua necessidade de desapego de rotinas e tarefas que antes dominavam. Sua atuação passa a ser a de um regente de uma orquestra, a quem cabe garantir que todo o time esteja desempenhando em harmonia para o atingimento de um objetivo comum. Essa mudança exige também alteração de conduta e aquisição de novas habilidades. Aprender a delegar é uma competência necessária a todo profissional que faz esse primeiro movimento na carreira executiva.
2- Aprenda a fazer perguntas e a ouvir: O líder de primeira viagem tende a buscar autoafirmação por meio de comportamentos que, na verdade, são contraproducentes. Querer mostrar que é o sabe-tudo só afasta a equipe, até porque ele não tem todas as respostas. O recomendável é aprender a fazer boas perguntas e a ouvir verdadeiramente. Só assim ele pode aprender o que não sabe e, de bônus, gerar mais engajamento da equipe.
3- Entenda que agora você está na berlinda: A partir de agora, suas palavras e ações têm um impacto diferente, com maior peso. Portanto, é preciso ter mais critério e medir o que irá dizer antes de emitir uma opinião, por mais simples que pareça ser. Diante da sua relevância para a equipe, o líder acaba desenvolvendo uma espécie de status que varia de “herói” a “vilão”. Alguns vão reverenciá-lo, enquanto outros irão temê-lo. Adotar uma postura de humildade e colaboração é importante. Estar aberto para receber feedback é fundamental para você avaliar como está sendo percebido pela equipe e poder fazer os ajustes necessários.
4- Esclareça seu papel e as expectativas: Apesar das mudanças, é evidente que internamente o novo líder se sente a mesma pessoa; por isso, tende a querer manter as relações como fazia antigamente. No entanto, é preciso ajustar o convívio com os antigos colegas: agora, eles são seus liderados e isso requer uma nova postura. Não quer dizer que é preciso agir com soberba, mas, sim, delimitar prioridades e fronteiras do que pode e o que não pode mais ocorrer na relação. Esta é uma maneira de enviar sinais claros sobre sua nova condição e abrir espaço para uma relação de transparência. É um momento que exige postura de firmeza temperada com respeito e clareza.
5- Evite o heroísmo: O erro faz parte de qualquer processo de aprendizado. O método mais comum para resolução de problemas é por tentativa e erro. O medo de errar acaba deixando o jovem líder ansioso. Ele não pode ser sempre evitado e precisa ser compreendido como parte natural do processo de desenvolvimento. A melhor forma de lidar com isso é buscar se aconselhar com outras partes interessadas que podem ter perspectivas enriquecedoras para o problema que o profissional precisa administrar. Ficar sozinho, tentando ser super-homem é o oposto do que recomendamos.
Tentar esconder os erros por medo do que a equipe vai pensar acaba sendo muito pior do que admiti-los. É como querer tapar o sol com a peneira; mais cedo ou mais tarde, todos descobrirão. E aí o líder perde o ativo mais precioso que pode ter com a equipe: sua credibilidade. Ou seja, ele se enfraquece. Admitir o erro quando ele acontece, na verdade, só contribui para fortalecer a imagem do líder junto à equipe (desde que, claro, não sejam erros que se repitam com frequência), na medida em que ele demonstra consistência e transparência. E essa postura serve de modelo para os liderados.
*Eva Hirsch Pontes é sócia fundadora da Phoenix Coach, empresa de coaching e programas customizados de desenvolvimento no Brasil e globalmente.
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