Ser excepcional não é dom, mas muita disciplina e trabalho duro

Resultados acima da média requerem um esforço acima da média – o caminho é a chamada prática deliberada

MOZART: EXEMPLO DE DEDICAÇÃO INCANSÁVEL (FOTO: GETTY IMAGES)

Você já parou para se perguntar por que algumas pessoas são excelentes no que fazem enquanto outras não? Se as palavras “dom” ou “talento” passaram pela sua mente, talvez valha conhecer os estudos que mostram o que foi responsável por alavancar a carreira de ícones como Mozart, Benjamin Franklin e Tiger Woods: a prática deliberada.

A obra “Talent is Overrated” (em português, “Desafiando o Talento – Mitos e Verdades sobre o Sucesso”), do jornalista norte-americano Geoff Colvin, dedica-se a entender esta questão. Reunindo diversos estudos sobre o tema, exemplificados pela trajetória de grandes ícones tidos como naturalmente talentosos, Colvin afirma que histórias de grandes conquistas estão precedidas de pelo menos 10 anos de dedicação incansável à prática em questão. A “chave para o sucesso”, portanto, está muito mais relacionada a longas horas focadas no desenvolvimento de habilidades do que a conceitos como genialidade e talento nato.

Mas longas horas de dedicação por si só, no entanto, não bastam. O segredo é praticar focando na execução de atividades específicas, desenhadas para melhorar seu desempenho e buscando feedbacks contínuos para os resultados, daí o conceito da prática deliberada. Esta combinação conceitualmente simples, mas extremamente demandante, é o que leva grandes atletas, músicos e cientistas aos seus grandes feitos. Para aplicarmos o conceito no nosso dia a dia, Colvin traz três modelos de prática deliberada que podemos seguir: o da música, do xadrez e do esporte.

O modelo que tem como referência a música funciona para atividades onde os ensaios reproduzem com certa exatidão o momento da execução final, como em um concerto, ou em uma apresentação de um produto. Os melhores músicos dedicam muito tempo à repetição exaustiva daquilo que querem performar bem, ensaiando momentos específicos de suas apresentações por horas, dias, semanas a fio, muitas vezes sozinhos, antes ou depois dos ensaios gerais com toda a orquestra. Esta dedicação extra é o que separa os bons dos excelentes, e o conceito também pode ser replicado no contexto organizacional, como no caso de apresentações em público.

O segundo modelo de prática deliberada é baseado no xadrez, onde o momento da execução não será exatamente com você ensaiou – no caso do xadrez, devido à imprevisibilidade dos movimentos do adversário. O que fazem os grandes enxadristas então? Eles estudam exaustivamente inúmeras variedades de jogadas, para que tenham repertório o suficiente para saber como reagir aos possíveis movimentos de seu adversário. Desta forma, a cada movimentação, consultam a sua “base de dados” adquirida e colocam em prática a mais adequada para o momento.

O dia a dia dos negócios é formado praticamente por uma sequência de situações similares ao xadrez. Nunca saberemos exatamente o que vai acontecer, mas temos uma boa noção do contexto e, se tivermos conhecimento de possíveis respostas às “movimentações do adversário”, podemos propor uma solução que se enquadra ao problema enfrentado em questão. A chave está, portanto, em adquirirmos repertório baseado em experiências similares de outras empresas, muito encontradas nos estudos de casos elaborados por escolas de negócio.

Por fim, temos o modelo do esporte. Neste caso, grandes atletas baseiam sua prática em duas frentes: a criação de condicionamento (musculação, corrida, etc.) e as simulações – treinos – do dia do jogo. O condicionamento é essencial para preparar o físico do atleta para os momentos em que o esforço for exigido, enquanto as simulações permitem prepará-lo para o momento da competição ao apresentá-lo condições muito similares às que enfrentará na hora H.

Fora do mundo dos esportes, a primeira pergunta que devemos fazer é “Quais ‘músculos’ são exigidos na minha profissão para que possa condicioná-los desde já?”. Em muitos casos, estariam os estudos de finanças, gestão da rotina, gestão de pessoas, entre outros – motores básicos do funcionamento de uma organização. Assim, garantimos ter as condições técnicas necessárias para um bom desempenho.

Já no caso das simulações, a receita é a mesma dos esportes: treinar. Embora menos óbvio no contexto organizacional, simulações e jogos de empresas também existem. Um bom exemplo para o público universitário é o Desafio Universitário Empreendedor, do Sebrae. A prática frequente destas simulações com sua equipe de trabalho pode prepará-la para enfrentar situações críticas em sua empresa.

Na próxima vez que vir alguém subindo ao pódio de uma Olimpíada, ganhando um prêmio Nobel ou conquistando o título de melhor empresa do ano, lembre-se destes conceitos. Agora mesmo, enquanto você lê esse artigo, há exemplos de pessoas fanáticas que passam 12 a 14 horas por dia executando uma combinação destas três estratégias em busca de uma performance de classe mundial. Independentemente de você querer ser o Mozart da sua profissão ou não, certamente há como chegar mais longe, e a aplicação destes aprendizados relacionados à prática deliberada, com dedicação e esforço, pode ser o caminho para chegar lá.

 

 

*Tiago Mitraud é diretor executivo da Fundação Estudar, uma organização sem fins lucrativos que, há 25 anos, apoia a carreira de universitários e recém-formados de todo o Brasil, oferecendo a jovens talentos bolsas de estudo, cursos presenciais e portais de conteúdo

 

Fonte  http://epocanegocios.globo.com/colunas/Lideranca-e-Carreira/noticia/2016/09/ser-excepcional-nao-e-dom-mas-muita-disciplina-e-trabalho-duro.html?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=post

 

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