"Faltam bons líderes no Brasil", diz James Hunter

Autor de "O monge e executivo", que já vendeu 3 milhões de obras no Brasil, se prepara para lançar 3º livro - veja o que ele revelou a EXAME.com

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São Paulo - Há oito anos, o consultor e escritor James Hunter lançava no Brasil o livro “O monge e o executivo”. Naquela época, ele nem imaginava alcançaria uma marca de mais de 3 milhões de cópias vendidas no país. Até hoje,  75% dos leitores do best-seller estão por aqui. 

Hunter está em sua 23ª viagem ao Brasil e falará aos visitantes da Bienal do livro do Rio de Janeiro no próximo sábado. Por telefone, ele conversou com EXAME.com e contou que está escrevendo seu terceiro livro, uma continuação de “O monge e o executivo”. A obra deve chegar às livrarias até o final do ano. Confira as dicas dele sobre como se tornar um líder eficiente:

EXAME.com - Qual a principal diferença entre um líder e um chefe?

James Hunter - Um chefe é alguém que administra, que é capaz de fazer as coisas. Ele pode planejar, orçar e resolver problemas. Mas isso não significa que ele é um bom líder. Porque um líder é alguém que consegue inspirar e influenciar pessoas à ação e à excelência. Administração é o que você faz, liderança é quem você é. A pessoa que você é que inspira.

EXAME.com- E como se tornar um líder sem ser chefe? É possível?

James Hunter - Sim, com certeza! O líder tem responsabilidades. Ele tem responsabilidades por produção, qualidade, serviços ou qualquer coisa que a organização esteja produzindo. Com isso, eles têm a clara responsabilidade de impor as regras, limites, ministrar disciplina, dar às pessoas o que elas necessitam. 

E já que líderes têm responsabilidades, o que eles fazem é identificar as necessidades das pessoas que estão liderando, não o que elas querem. Algumas vezes, o que elas precisam não é o que elas querem.

Então, os melhores servidores que eu conheço podem ser muito fortes: eles abraçam forte, mas também castigam. Eles demandam excelência. Mas, ao mesmo tempo, sabem como construir uma boa relação com elas. Ser líder exige muito equilíbrio e estar preparado para fazer as duas coisas: abraçar e castigar.

EXAME.com - Em “O Monge e o executivo”, você fala muito sobre saber ouvir. Um líder que não é bom ouvinte pode se tornar um? Como?

James Hunter - Praticando! (risos). Eu nunca encontrei uma criança de dois anos que fosse uma boa ouvinte. Crianças de dois anos querem fazer tudo do jeito delas, não é? "Eu primeiro, eu não quero ouvir você": é assim que elas são.

Eu penso que o primeiro passo é você querer mudar. Algumas pessoas precisam aprender a ouvir, outras precisam trabalhar para conseguir dizer a verdade aos outros sobre a performance deles, alguns precisam exercitar a paciência, a bondade, dar feedback, respeito, abnegação, aprender a perdoar, se livrar de preconceitos. 

Então, precisamos identificar as áreas em que precisamos trabalhar e praticar. Afinal, ninguém nunca aprendeu a nadar lendo um livro. Você pode aprender sobre natação, mas não a nadar. Da mesma forma, ninguém aprende a ser um bom líder indo a seminários, assistindo filmes. Você precisa praticar. 

Mas a maioria das pessoas não trata desse jeito. Elas pensam: eu sou um líder ou não? É o mesmo que dizer: eu não quero aprender a nadar porque eu não acho que sou um nadador. Isso é loucura! 

EXAME.com - Tornar-se humilde, outro conceito caro ao seu livro, segue o mesmo processo?

James Hunter - Digamos que eu recebi um feedback de que sou arrogante. A primeira coisa que tenho que fazer é aceitar que as pessoas podem me ver desta maneira e ter um desejo de mudar isto. E como praticar a humildade? Bem, que tal se eu tiver uma reunião com todo o meu pessoal e disser: "Vocês todos disseram que sou arrogante. Desculpem-me, eu não quero ser assim. Eu quero mudar isso".

Estar de frente para o seu pessoal e ser humilde, isso é prática. E uma vez que você pratica, você começa a mudar. O mundo começa a reagir diferente a você. Eu tenho visto pessoas fazerem mudanças dramáticas em suas lideranças, mas elas começam com uma escolha.

EXAME.com  - Como motivar funcionários sem gratificá-los?

James Hunter - Muitas pessoas pensam que motivar é “subornar” pessoas: se eu te der mais dinheiro, você fará isso. Se eu te der um pedaço de bolo, você fará isso. Ou o contrário: se castigar você, eu vou te motivar. Nenhuma das duas coisas é motivação de verdade. É um jeito de conseguir que as coisas sejam feitas apenas "hoje"

Eu posso assustá-lo para fazer isso hoje, eu posso “suborná-lo” para fazer isso hoje, mas e amanhã? E na próxima semana? E no próximo ano? E se eu não estiver aqui? E se eu não estiver aqui pra te fazer cumprir isso, para “suborná-lo” ou para punir você? O que acontece?

A motivação de verdade é a que não vem por meio disso. Ela vem das pessoas fazerem seu trabalho para conseguir excelência: esta é a verdadeira motivação. Motivação é quando vem de dentro.

Mas como eu crio este desejo de ser excelente em você? Eu acredito que você faz isso criando uma cultura de excelência. Excelência inspira as pessoas. Mediocridade as desencoraja. Se você trabalha duro e todos ao seu redor não, isso não te motiva. Se você está imerso em uma cultura de excelência em que os líderes esperam excelência de todo mundo e você não trabalha com excelência, você não pode estar naquele time.

Outro jeito de motivar é amar. O amor motiva as pessoas. Se eu sou o seu chefe e nós temos uma relação, eu conheço você, conheço a sua família, sei com o que você trabalha, ouço você, escuto você, almoço com você, tomo café com você, eu estou interessado em você. Eu me importo com você. Eu quero que você seja o melhor que puder ser.

Então eu “abraço” você quando você precisa e também “castigo” você quando necessário. Se você fez um trabalho ruim, eu vou ser o primeiro a dizer que aquilo não foi bom. A razão disto é que eu quero que você seja melhor e eu sei que você pode fazer melhor.

Se você sabe disso, que o seu chefe quer o melhor para você, isso te inspira. Não todas, há algumas pessoas que levariam isso para o lado ruim, mas 90% das pessoas querem dar retorno.

EXAME.com - Como é possível trabalhar o amor em um ambiente corporativo? 

James Hunter -  Jack Welch [ex-presidente da GE] costumava dedicar 60% de seu tempo com o seu pessoal, desenvolvendo seus funcionários. Você acha que ele, no comando de uma das maiores empresas do mundo, tinha tempo para isso? Ele enxergava isso como parte da sua função como líder: meu trabalho é desenvolver meus funcionários para serem o melhor que eles conseguirem. Nós todos temos o mesmo tempo: 24 horas. A questão é prioridade. 

Eu digo, se durante a semana você dedicar que seja 20 minutos para uma xícara de café, para conversar, entrar na mente de seus funcionários um pouco, construir um relacionamento. Não precisa ser por 200 horas no mês. Verdadeiros líderes fazem disso uma prioridade, não é uma opção. Eles fabricam tempo.

EXAME.com - Por que você diz o que maior líder de todos os tempos é Jesus?

James Hunter - Liderança é influência. Ele influencia pessoas mais do que qualquer outro que já viveu. Não há sequer um argumento. O que eu quero dizer é que mesmo, hoje, um terço do mundo inteiro se considera cristão.É por isso que eu digo que ele é o maior líder. Não tem a ver com religião ou espiritualidade. É por ele ter influenciado tantas pessoas há mais de dois mil anos atrás e continuar fazendo isso até hoje.

EXAME.com - Mas, pessoalmente, você segue alguma religião?

James Hunter - Pessoalmente, eu sou cristão, assim como a minha família.  Eu não sigo uma denominação, sou apenas um seguidor de Jesus. Mas em termos dos meus ensinamentos, eles não têm nada a ver com isso. A liderança servidora não tem relação com religião. Alguns dos maiores líderes servidores que eu conheço são ateus. Você não precisa ser uma pessoa religiosa para ser um líder servidor.

A ideia é:  tratar as pessoas como você gostaria de ser tratado. O ponto é: que tipo de chefe você gostaria de ter? Um chefe impaciente, que não é bom, que é arrogante, que é desrespeitoso, que não perdoa, não é comprometido? É claro que não! Quem quer trabalhar com uma pessoa assim? Os princípios da liderança servidora são muito evidentes: é o tipo de líder que todo mundo gostaria de ter.

Exame.com - O que você acredita ser a chave do sucesso de “O monge e o executivo” no Brasil?

James Hunter - Essa é minha 23ª viagem ao Brasil. Eu já falei em 30 cidades em cerca de 70 palestras por todo o país. Então eu meio que conheço vocês muito bem. O que eu diria é que as pessoas no Brasil estão buscando melhores líderes. Elas querem muito mais. Eu penso que as demonstrações aqui estão provando isso, que o sucesso do meu livro mostra isso: as pessoas estão esperando muito mais de seus líderes.

E os líderes no Brasil, nos negócios, na política, na religião, eles deveriam perceber isso. Porque as pessoas aqui estão mudando. Elas estão querendo mais. Não há outra maneira de explicar o sucesso deste livro aqui. Alguma coisa está acontecendo. As pessoas estão prontas para a mudança. Elas estão prontas para uma liderança melhor.

EXAME.com - O que você quer dizer com isso? 

James Hunter - O Brasil tem tudo: vocês são pessoas bonitas, amáveis, boas, servidoras… Vocês têm recursos naturais, espaço, território. O Brasil tem tudo! O que não tem é uma boa liderança. E tem sido assim desde sempre, talvez: trinta anos atrás vocês ainda tinha uma ditadura militar.

Ao longo dos últimos 30 anos as pessoas começaram a ver que o país poderia ser muito melhor. E eu concordo com elas! Eu acho que o desafio que o Brasil tem é ser capaz de emergir uma boa liderança. É o que o Brasil precisa e o meu país também. Nós precisamos de uma liderança melhor.

O mundo inteiro está clamando por melhores líderes. Essa é maior questão do Brasil, que ótimos líderes apareçam. Nós não precisamos de mais ditadores, de mais corrupção. Nós precisamos de líderes servidores que deem às pessoas o que elas precisam, não o que elas querem.

Fonte:http://exame.abril.com.br/gestao/noticias/faltam-bons-lideres-no-brasil-diz-james-hunter?page=1

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